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Aldeia Pinuya, na Colônia 27 em Tarauacá, é considerada a menor terra indígena da Região Norte - Fotos: Leônidas Badaró |
São apenas 305 hectares, o que faz com que a aldeia
Pinuya, Colônia 27, em Tarauacá, seja considerada a menor terra indígena da
Região Norte.
A
pequena extensão territorial não foi empecilho para que as 42 famílias
kaxinawás do povo Huni Kuin que moram na aldeia a tornassem uma referência na
produção agrícola e no respeito aos recursos naturais.
A
história da comunidade na região tem apenas 43 anos, e desde o começo é uma
verdadeira demonstração de amor à natureza. Oriundo de uma área do Incra de 100
hectares, o local não tinha floresta, era apenas um pasto para alimentação de
gado.
História da comunidade na região tem apenas 43
anos, e desde o começo é uma verdadeira demonstração de amor à natureza para que pudessem tirar da terra o alimento das
famílias, foi preciso reflorestar toda a região. Quatro décadas depois, a
diversidade e a beleza da flora e da fauna saltam aos olhos de quem chega à
aldeia.
Outra preocupação que se percebe logo na chegada à
comunidade é o cuidado em preservar a identidade indígena. Os índios recebem os
visitantes com músicas e danças tradicionais, passadas de geração em geração e
que remetem à rica cultura dos kaxinawás.
“Não queremos perder nossa cultura. A gente procura
ensinar aos mais jovens que é importante ter acesso à tecnologia, mas que temos
nossa identidade. Aqui se fala tanto em português como em ranthakuin, a nossa
língua tradicional”, destaca Assis Kaxinawá, cacique da aldeia.
Parcerias
que desenvolvem a comunidade
O sucesso na aldeia também é explicado pela
parceria com o governo do Acre ao longo dos últimos anos.
Um exemplo são os investimentos realizados pelo
Proacre, por meio do Plano de Gestão para Terras Indígenas (PGTI), financiado
com recursos do Banco Mundial.
A comunidade recebeu recursos para o fomento à avicultura
e roçados sustentáveis, fortalecendo à produção, e também investimentos para
equipar e desenvolver a organização indígena.
Foram
os resultados dessa parceria que dois consultores do Banco Mundial viram de
perto durante a última quinta-feira, 1, na aldeia Pinuya.
O
peruano Denis Scudero e o norte-americano Randall Brummeth conversaram com os
indígenas e conheceram os avanços que as políticas públicas do estado têm
proporcionado à região.
Um
dos investimentos e que hoje garante parte da segurança alimentar da aldeia é a
piscicultura. Foram construídos oito açudes na comunidade, onde são criados
tambaquis, piaus e curimatãs.
Os
peixes são usados na alimentação e como fonte de receita para os índios. Com o
sucesso da criação, a própria comunidade, com recursos próprios, adquiriu 18
mil alevinos para continuar fomentando a produção de pescado.
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Um dos investimentos e que hoje garante parte da segurança alimentar da aldeia é a piscicultura |
O que também chama a atenção de quem chega à aldeia é a
diversidade de frutas. A fruticultura é uma das bases da produção local.
Com
o apoio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof),
a comunidade vai intensificar ainda mais essa cadeia produtiva. Estão sendo
preparados 10 hectares de terra, onde será plantado açaí, em forma de consórcio
com outras frutíferas.
“Nós
apoiamos essas ações com o objetivo de fomentar a produção familiar e garantir
a segurança alimentar dos moradores da aldeia. Uma das nossas preocupações é a
orientação técnica. Por isso, já temos aqui três técnicos da própria
comunidade, que são os responsáveis, junto com nossos servidores do escritório
em Tarauacá, pela assistência técnica”, destaca Dinah Borges, coordenadora da
extensão indígena na Seaprof.
Organização comunitária que faz a diferença
É
inegável que um diferencial na aldeia Pinuya é a organização comunitária. Os
180 moradores da comunidade decidem o que é prioridade, e as decisões são
tomadas de forma coletiva.
“Esse
nível de organização é que nos chama atenção. Esta é uma das comunidades
indígenas mais organizadas, com uma gestão interna muito bem consolidada”,
afirma Neiva Tessinari, técnica em produção do Proacre.
A
opinião é compartilhada por Marcelo Piedrafita, da Assessoria de Assuntos
Indígenas do governo do Estado. “Este sucesso que a gente vê aqui na Colônia 27
é resultado do trabalho conjunto do governo com a comunidade. Eles possuem uma
visão ampla, que tem a ver com a produção, mas que vai além. Aqui há uma
preocupação com a habitação, o fornecimento de água e a melhoria da qualidade
de vida de quem mora na aldeia”, afirma.
A
organização comunitária também pode ser vista no importante papel que as
mulheres desenvolvem na comunidade, que vai além dos afazeres domésticos.
Uma das fontes de renda da aldeia é a venda do artesanato
confeccionado por mãos habilidosas; que encantam os visitantes e ajudam a
divulgar a cultura do povo huni kuin.
Amanda
Kaxinawá é a coordenadora do grupo de mulheres e professora da aldeia. “Nós
temos muito orgulho de quem somos. É importante que as pessoas conheçam nosso
trabalho. Infelizmente, ainda sofremos muito preconceito com a história de que
índio não gosta de trabalhar. Pelo contrário, a gente trabalha muito, e nós,
mulheres, somos exemplo disso. Fazemos artesanato, fazemos comida, cuidamos da
nossa casa e também trabalhamos no roçado.”
O
principal objetivo da visita dos consultores do Banco Mundial é verificar os
avanços que os recursos financiados pela instituição promoveram na comunidade.
Na
aldeia indígena foi possível verificar a melhoria da qualidade de vida da
população local com a parceria entre índios, governo do Estado e Banco Mundial.
“Queríamos
verificar o desenvolvimento da comunidade. Levamos em consideração também a
preservação da cultura e a dinâmica produtiva. Esse tipo de trabalho que está
sendo feito aqui é fundamental, e ao final da parceria vamos ter resultados
extremamente positivos”, afirma Denis Scudero, consultor do Banco Mundial.
Depois
de um dia inteiro de contato com a cultura indígena, conhecendo as experiências
produtivas e também o modo de vida de quem vive em perfeita harmonia com a
natureza, a comitiva se despediu da aldeia Pinuya com a certeza de que, nessa
troca de experiências, o homem branco tem muito a aprender com os índios.
Manoel
Kaxinawá, uma das lideranças da comunidade, agradeceu o apoio do governo do
Estado e do Banco Mundial e fez questão de ressaltar o trabalho de segurança
alimentar que é feito por meio dos investimentos.
“Nosso
maior inimigo é a fome. Não há inimigo que precise ser mais combatido. Com
essas parcerias, podemos ver hoje nossa comunidade se desenvolvendo, as
crianças saudáveis e bem alimentadas. Isso é o mais importante”, declara.
Leônidas Badaró –
Agência de Notícias do Acre