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Thaís Khalil, responsável pelo caso Telexfree: ações individuais ficarão para segundo momento |
Os divulgadores que
entraram com a ação contra aTelexfree para receberem primeiro
podem ficar para o fim da fila, e só serem ressarcidos após o rateio
pedido na ação coletiva movida pelo Ministério Público do Acre (MP-AC). Se
sobrar algum.
“Eu
determinei a indisponibilidade [ de bens da Telexfree ] para garantir a
ação coletiva [ movida
pelo MP-AC ]. Então, esses valores estariam como que à
disposição da ação coletiva. Se houver um remanescente, podemos disponibilizar[para as ações
individuais ]”, diz, em entrevista aoiG , Thaís Khalil,
juíza da 2ª Vara Cível de Rio Branco que há 100 dias determinou o bloqueio das
atividades e contas da Telexfree.
O
congelamento foi pedido pelo MP-AC, que acusa a empresa de ser uma pirâmide
financeira em que as taxas de adesão pagas por quem entra por último são usadas
para remunerar quem entrou primeiro. A negócio tem por volta de 1 milhão de
associados no Brasil. Os advogados negam irregularidades.
Na
ação coletiva, os promotores pedem a extinção da Telexfre e o uso do
dinheiro da empresa – estima-se que cerca de R$ 600 milhões tenham sido
localizados – para ressarcir os divulgadores.
Essa
ação, porém, ainda aguarda julgamento, o que não deve ocorrer em 2013. E,
enquanto uma decisão não é tomada, dezenas de divulgadores têm entrado na
Justiça individualmente para tentar receber as verbas que julgam lhes serem
devidas. Em julho, já havia 176 processos que cobravam R$ 2,8 milhões da
Telexfree , como o iG mostrou.
Ações individuais
Com
as s ações individuais, os divulgadores também tentam obter valores maiores do
que possivelmente obteriam na ação coletiva movida pelo MP-AC.
Alguns
têm conseguido decisões favoráveis. Em julho, um advogado de Rondonópolis (MT)
conseguiuuma decisão favorável no valor de R$ 101 mil . A juíza
responsável pelo caso pediu à 2ª Vara Cível de Rio Branco que fizesse a reserva
da quantia para o divulgador.
Thaís
Khalil afirma já ter recebido “dezenas” de comunicados semelhantes, vindos de 16
localidades diferentes. Os pedidos, porém, serão recusados, em ofícios que em
breve serão enviados aos juízes responsáveis pelas decisões.
“Eu
recebi dezenas de solicitações de juízes de diversa comarcas”, diz a juíza.
“Mas eu digo o seguinte: os valores e o patrimônio que foram declarados
indisponíveis o foram para garantir a eventual execução da ação coletiva. Esses
valores vão se prestar a essa garantia em caráter de preferência. Ao final, se
houver uma execução (…) e houver saldo remanescente, aí eu disponibilizo.”
De fora
A
juíza também afirma que quem entrou com ação individual não vai ser beneficiado
em caso de vitória do Ministério Público na ação coletiva contra a Telexfree.
“Se
alguém ajuizou uma ação individual e pede a suspensão dessa açao individual,
aproveita a ação coletiva. Se não solicita, a questão dele vai ser tratada na
ação individual e, se procedente a ação civil pública, ele não vai se
aproveitar”, diz Thaís. “Se essas pessoas não solicitaram [ a suspensão ]
é porque eles estão abrindo mão da garantia da ação coletiva.”
Para
aproveitar a ação coletiva, os divulgadores deverão também se habilitar
no processo depois que houver uma decisão final – por enquanto, todos os
pedidos estão sendo negados. Thaís afirma que o caso já está em “fase
avançada”, mas evita se comprometer com prazos.
Para
Clito Fornaciari Júnior, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional
São Paulo (OAB-SP), como o MP-AC conseguiu o bloqueio das contas da Telexfree
antes, tem prioridade em relação aos às ações individuais cujas decisões vierem
depois.
“É
uma questão prática de quem chegou primeiro”, diz o advogado, ressaltando porém
que nada impede a abertura de processos individuais – uma maneira de garantir o
ressarcimento caso o MP-AC seja derrotado na ação coletiva.
Samir
Badra Dib, advogado de Rondonópolis que conseguiu uma decisão favorável de R$
101 mil, discorda da interpretação da juíza Thaís.
“A
ação coletiva é para a extinção da Telexfree e devolução em partes iguais. A
minha liminar garante o ressaricmento integral. Uma não vale mais do que a
outra”, afirma o advogado.
Mudança de hábitos
As
investigações contra a Telexfree chamaram a atenção para a existência, no
Brasil, de dezenas de negócios suspeitos de serem pirâmides financeiras
mudou sua rotina. Uma força tarefa de promotores de Justiça e procuradores da
República investigam cerca de 80 empresas.
Para
Thaís, o caso significou uma mudança das rotinas profissional e pessoal. Com
mais de 42 mil páginas, os dois processos (a ação que levou à liminar e a ação
coletiva) têm exigido, sozinhos, metade to tempo de trabalho da juíza, responsável
por uma Vara que tem mais de 4,3 mil ações.
“Agora,
no meu cotidiano [pessoal], interveio em razão das ameaças . Eu acabo
precisando ter cuidados com segurança que eu nem tinha tanto. E, realmente, é
desagradável.”
Fonte: iG