domingo, 18 de agosto de 2013

Cidadania chega pelas águas

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Em uma viagem de 12 horas o jornalista Jairo Carioca, de ac24horas produziu uma reportagem sobre a vida e atividades de ribeirinhos nos rios que cortam a bacia hidrográfica dos estados do Acre e Amazonas.
As águas são as principais vias para o transporte de cargas e de passageiros. Por elas chegam médicos, cultura, banco e até previdência social. O ribeirinho sabe que é pela navegação que também a cidadania. E é por este canal, também, que muitos ganham a vida.
A reportagem acompanhou a viagem pelo rio Tarauacá dos produtores José Alves e Hélio Silva. Foi um dia de viagem na região conhecida como Alto Rio Envira. Viagem que segundo Alves é perigosa, pois existe no caminho uma intensa movimentação de índios isolados na fronteira do Brasil, no estado do Acre com o Peru.
“Por aqui também passam canoas e barcos levando drogas”, contou Alves.
A presença de madeireiros peruanos na região, a extração ilegal de madeiras nobres e o tráfico de drogas chegam a inibir o transporte com a produção. “Acabo fazendo isso uma única vez por ano” [sorriu] o produtor no comando do batelão.
Mas a viagem foi tranquila. Pela calha ainda profunda do rio, mesmo nesta época do ano, além da flora e fauna exuberante, muitos lugares de floresta totalmente intacta, indicadores de boa qualidade ambiental e até de pouca caça. Um lugar perfeito para cientistas e estudiosos.
Ainda era dia quando seu Alves e a família atracaram no porto da cidade de Feijó. Ao avistar o senhor Hélio, na margem do rio, seu Alves esboçou um sorriso mais alegre. Era a garantia de que o produto trazido [Porco] tinha venda certa. Um gesto mais aliviado.
Seu Hélio trabalha em Feijó com a produção de torresmo. Em rápida conversa, Hélio e Alves acertaram o preço a ser pago nos porcos, e rapidamente, na margem do rio, a família começou a produzir a matéria prima – subproduto extraído da gordura (banha) suína.
Expostos ao sol e uma temperatura de quase 33°C, os filhos de seu Alves cortavam de forma muito prática os pedaços de banha. O esforço é necessário, pois seu Alves paga os filhos pela produção. Os pedaços cortados são automaticamente levados para uma parte mais alta na margem do rio, onde a banha é transformada de forma artesanal em torresmo.
Hélio e o ajudante trabalham há 53 anos produzindo torresmo. “Eu aprendi com meu velho pai”, comentou o produtor. Além do sol forte eles ainda são expostos à alta temperatura do forno improvisado. O fogo é feito de lenha, cada porção trazida precisa de meia hora de fritura para ficar pronta. O trabalho do seu Hélio foi até próximo do meio dia.
Já na fase de produção aparecem os primeiros clientes do negócio.  São ribeirinhos dali mesmo que aproveitam o torresmo para tira- gosto. Índios que esperam com barcos ancorados para voltarem às suas aldeias também degustam. Aos poucos, seu Hélio vai vendendo toda a sua produção.
“Mas vendo grande quantidade para os bares e restaurantes da cidade”, acrescentou seu Hélio.
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No final do dia, seu Alves já se preparava para retornar com a família. Além dos trocados que conseguiu com a venda de banha de porco, ele vendeu milho que também produz na comunidade do Alto Envira. Os filhos exibem roupas e alguns mantimentos que eles vão levar na viagem de volta. Toda família fez menos que R$ 200.
“Agora só volto de novo quando as águas subirem”, lembrou seu Alves.
Muita coisa aconteceu por ali. A movimentação no precário porto de Tarauacá é grande. É por ele que chega grande parte da produção de ribeirinhos. Por ali também se hospedam famílias inteiras de indígenas que veem à cidade em busca de auxílio médico, sempre nas datas de pagamento do Bolsa Família ou de benefícios do INSS.
O silêncio quebrado apenas pela correnteza do rio parece falar alguma coisa. Para muitos, o rio Tarauacá é uma extensão natural de suas casas.
Fonte: ac24horas
Reportagem e fotos de Jairo Carioca

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