terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ex-presidiário dá lição de superação e arte



O artesão Marinésio de Souza já passou por maus bocados. Preso por tráfico de drogas, ele esteve no Presídio de Cruzeiro do Sul, onde aprendeu a trabalhar com entalhes de madeira.
Após o cumprimento da pena, Marinésio transformou o aprendizado da penal em uma lição para sua vida e passou a viver do artesanato. Anos depois, o conhecimento com a ayahuasca e a doutrina do Santo Daime, lhe colocou de frente com os temas inspirados pela natureza e pela história de Jesus Cristo. As mirações ganharam forma na madeira entalhada, na maioria das vezes reaproveitamento de peças que seriam desperdiçadas pela indústria madeireira.
Em sua loja, instalada sobre esteios esculpidos de mourapiranga na Vila Lagoinha, BR-364, pássaros, peixes, répteis e anfíbios ganham forma através da arte.

Em algumas de suas obras, o artista vai ao limite da perfeição. É o caso do jacaré esculpido em marfim. Pedras, ossos e dentes dão à escultura um aspecto realista com escamas e dentes que saltam à vista. A obra está avaliada em 15 mil reais.
Realistas também são as duas imagens de Jesus Cristo esculpidas em cumaru-de-cheiro em tamanho real, uma delas simbolizando o julgamento e outra, a crucificação.

“Falta reconhecimento”

Entre as esculturas, chama a atenção uma imagem do senador Jorge Viana, feito na época em que o mesmo ainda era governador do Estado. A escultura foi feita como prova de reconhecimento ao trabalho do governador que implantou no estado o conceito de florestania: a cidadania através da valorização das riquezas e dos saberes regionais. Para Marinésio, contudo, este conceito ficou um pouco esquecido.
“Desde o Governo Binho Marques eu não participo mais da Expoacre. Falta apoio. Na Expoacre o que mais se vê são as mesmas coisas que se vêem nas lojas todos os dias.”
O artista critica ainda a recente iniciativa de trazer designers italianos para o Acre. “A arte e a cultura de cada lugar é diferente. Aqui é outro tipo de arte. Temos que incentivar e valorizar o nosso jeito de fazer arte.”
Marinésio diz que se tivesse o incentivo adequado poderia dar aulas para ensinar aquilo que aprendeu, formando novos artesãos na arte do entalhe em madeira.
“Esta arte não é só para gente jovem, gente idosa ou de qualquer idade também pode aprender”, comenta o ex-presidiário que tirou do seu momento mais difícil, aprendizado e inspiração para trilhar os caminhos da arte.
Leandro Altheman do Site Juruá Online

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