Em tom de surpresa, li ontem a notícia de que os
empresários do turismo estão descontentes com a falta de políticas públicas
para o setor, no Acre. Confesso que não foi surpresa a queixa deles, e sim o
tempo que levaram para se manifestar e para concluir que este não é um assunto
que interesse ao governo.
Foram lentos em perceber e mais lentos ainda em
colocar a boca no trombone.
Entendo a demora em criticar e o empenho aplicado
na diplomacia de esperar pela boa vontade do governador Tião Viana (PT) que
poderia, quem sabe, um dia atentar para os necessários investimentos para um
setor que no Acre agoniza seus últimos momentos de uma vida que nem chegou a
existir.
Os empresários demoraram a admitir a crise inegável
porque mantinham a esperança acesa de que pudessem ser atendidos com os favores
do governo. Perderam tempo e senso de oportunidade. Deveriam ter desistido
dessa vã esperança há cerca de 60 dias, quando o governador Tião Viana entendeu
que políticas públicas para o setor cambaleante do turismo eram menos
importantes que a divulgação e o marketing.
O fim da linha foi quando o
governador resolveu acoplar a Secretaria de Turismo à de Comunicação do
Estado. Deveriam ter admitido, ainda naqueles dias em que Leonildo Rosas
assumiu as funções de secretário de Turismo, que não havia esperanças de
políticas públicas eficazes e que o máximo que iriam conseguir era assistir a
um ou outro comercial de um Acre surreal.
Afinal de contas, este é o papel do secretário de
Comunicação.
Confesso que ao ler a nota dos empresários de
turismo, mal disfarçada de matéria jornalística, achei especialmente
interessante a expressão “desalinhamento do setor”. De acordo com uma busca
rápida no Google, o pai dos novos sabichões do mundo, se constata que
desalinhamento quer dizer afastar, desviar ou tirar do alinhamento.
Desarranjar, desordenar. Desadornar, desataviar, desenfeitar.
Portanto, a menos que queiram discutir com o
dicionário online, eu recomendo aos empresários descontentes que escolham outra
palavra mais emblemática para definir o momento agonizante do setor, afinal de
contas, vai faltar qualquer coisa neste setor, menos enfeite.
Enfeites, ornamentos e fotos posadas são o que
fazem viver o setor. Disto e da conivência dos empresários que se calam e saem
correndo ao menor aceno de simpatia do governador. Tudo o que não faltará ao
turismo é aplicação do marketing surreal.
Nada de eficaz foi feito pelo desenvolvimento do
turismo no Acre e não vejo perspectivas de que possa ser feito. Vejam bem que
não foi por falta de caminhos. As rotas de turismo traçadas pela Secretaria de
Turismo e Lazer do Acre foram tão ineficazes quanto ilusórias.
Caminhos foram o que não faltaram, mas sem jamais
chegar a algum lugar. Foram Caminhos de Chico Mendes, Caminhos da Revolução,
Caminhos da Aldeia e da Biodiversidade. Todos levaram o turismo do Acre ao
mesmo lugar: nenhum.
E o que dizer do Etnoturismo, Ecoturismo e tantos
outros temas sobre os quais nunca se entendeu muito bem o conceito?
Hoje é o dia das confissões e confesso, mais uma
vez, que fico mesmo com vontade de morar neste ‘estado do ecoturismo dos irmãos
Viana’, mesmo que o secretário de Turismo entenda tanto de políticas para o
setor quanto eu de culinária. É gente, tudo o que sei fazer na cozinha é
omelete, mas gosto mesmo é de publicar fotos no Facebook como grande moça da
gastronomia mundial. Vale a pose, não é?
Gina Menezes é jornalista e colunista política
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